O dia estava agradável, o sol sutilmente acariciava nossa
face. Demoramos alguns minutos para chegar até lá. Após tantas subidas e
curvas, finalmente tivemos o privilégio de apreciar aquela linda obra de arte feita
por Deus. O céu estava pintado por um azul médio e as nuvens não faziam nenhum
desenho a não ser o típico formato delas, aquele geralmente desenhado pelas
crianças. O olhar dele sorria mais que os lábios, já imaginava que ele fosse
ficar assim. Afinal, na primeira vez que olhei suas fotos em uma rede social,
havia algumas ao ar livre, logo, ficou evidente que ele era um amante da
natureza. Após apreciarmos a cidade lá do alto, fomos caminhando para um lugar
que onde as atrações eram ruínas e árvores. O levei lá porque uma vez fui com uma amiga.
Ele gostou e comentou que também já havia estado por ali.
Bebemos um pouco de água e nos sentamos em um banco de
madeira antigo empoeirado. Ele cruzou as pernas e começou a olhar para
cima, como se estivesse pensando em algo. Eu, na verdade, estava pensando o
tempo todo, principalmente no quanto era incrível estarmos ali. Eu não entendia muito bem
minha tamanha euforia, sinceramente, não entendia era nada! Nem o porquê de não ter conseguido tirá-lo da cabeça desde a primeira vez que o vi.
- Mas então, você terminou o namoro recentemente “né”? Disse
ele um pouco receoso, mas decidido.
- É... respondi. Não demonstrei alegria, tampouco
infelicidade.
- Como está se sentindo? disse ele com um tom interrogatório.
- Estou me sentindo ótima! Não tivemos problema algum. Nós terminamos pelo bem de ambos. Não colocamos o fim de uma
maneira trágica. Foi um término sadio e maduro.
- Bom... isso é muito bom! Nem sempre os relacionamentos
terminam dessa forma! Disse ele olhando em meus olhos.
- Aproveitando a curiosidade dele, comecei a falar: Senti que era o momento de viver coisas novas. A minha
vida ansiava por isso. Sei que tudo que eu passei com ele me acrescentou muito,
aprendi muitas coisas. Mas passou! Depois disso, uma contradição aconteceu.
Pude perceber que estou mais preparada para viver um amor. Achei que
aconteceria diferente, que eu fosse ignorar qualquer coisa que me lembrasse um
relacionamento. Mas entendi que, por mais que fujamos, o destino encontra uma
maneira de fazer nossos corpos se atraírem por outros. Não escolhemos.
Simplesmente podemos nos apaixonar ao virar a esquina e encontrar o sorriso de
alguém.
- Ele assentiu. Pegou uma folha seca que estava ao lado do
seu pé direito, e começou a rasgá-la.
- O que foi? Disse eu sorrindo, sem entender o silêncio
dele.
- Ele deixou a folha. Colocou as duas mãos em cima do banco
e ficou mirando em um ponto fixo, ainda, sem dizer sequer uma sílaba.
Cautelosamente coloquei minha mão direita sobre a mão
esquerda dele, sem pressionar. Ele suavemente virou-se para mim. Ainda sem
dizer nada, se aproximou cada vez mais e fechou os olhos, nesse momento, parei
de respirar e acho que ele também. Fechei os olhos. Pude sentir seu perfume cada vez mais forte se misturando com o cheiro de terra molhada. E sem que
pudéssemos perceber, nossos lábios se encontraram. Meu coração se calou e
por alguns instantes, não senti o meu corpo nem a presença de algo ao nosso
redor. É como se todo o meu eu estivesse ali, naquele beijo. Seus lábios se
encaixavam perfeitamente aos meus. Não foi um beijo eufórico, foi como estar flutuando nas águas térmicas de um paraíso. Ouvíamos apenas o som dos pássaros e
uma canção chamada: sintonia.
Após essa pausa que tivemos do mundo, precupado, se explicou: - Desculpa, enquanto eu estava em silêncio, estava tentando
me convencer de que ainda não era a hora de fazer isso. Depois de ouvir tudo o
que me disse, minha única vontade era essa...
Sem me importar com nada, o respondi: Acho que agora sou eu quem está sem palavras! Sorri e o
abracei olhando para os galhos secos de uma árvore...